quinta-feira, 30 de abril de 2015

23 de abril - 2ª fase do Concurso Nacional de Leitura - Prova Distrital em Melgaço

     Na quinta-feira da semana passada, dia 23 de abril, os nossos 3 finalistas deslocaram-se a Melgaço para representar a EBI de Castelo do Neiva e participar na 2ª fase do Concurso Nacional de Leitura.
     Acompanhados pela diretora de turma, professora Lurdes Lopes, deram o seu melhor.
     Aqui fica o depoimento da Bruna, do Diogo e do José...
     A fase distrital do Concurso Nacional de Leitura realizou-se na Casa da Cultura, em Melgaço, onde realizamos as nossas provas e assistimos a um espetáculo de dança e a um pequeno vídeo para conhecermos melhor Melgaço e os seus costumes. Contamos com a presença de um contador de histórias (Jorge Serafim) que animou a cerimónia de entrega dos vencedores do terceiro ciclo e do secundário. Embora não tenhamos passado à segunda fase, apreciamos a experiência e gostávamos de para o ano repeti-la. Nenhum de nós ganhou esta fase, mas trouxemos para a escola um prémio: livros sobre Melgaço.



     O espírito destes três jovens é de louvar... 
     Parabéns pela participação! 
     Parabéns pelo desempenho! 
     E parabéns pela vontade e determinação em voltar a aceitar este desafio para o próximo ano!

      No filme que se segue fica o registo fotográfico deste dia diferente e, no seguinte, o diploma e as capas dos novos livros que vieram enriquecer o acervo da biblioteca da EBI de Castelo do Neiva e que o Bi muito agradece...
     Bem hajam! 




      

quarta-feira, 29 de abril de 2015

La Fontaine - Saber mais...

            Já alguma vez te contaram a história da "Lebre e da tartaruga" ou "A raposa e as uvas", ou ainda "O leão e o rato"? 
          Pois bem, os alunos do 9º B realizaram um trabalho no âmbito da disciplina de Português, sob orientação da professora Maria do Céu Arouca, cujo resultado final nos permite ficar a saber um pouco mais sobre o autor de algumas das fábulas que escutamos na nossa infância: La Fontaine!
               Faça-se um pouco de luz sobre a biografia deste autor...



Sessão de sensibilização sobre o Envelhecimento - Saber mais...

     No passado dia 22 de abril, algumas turmas do 3º ciclo estiveram presentes, juntamente com os seus professores, numa sessão de sensibilização promovida pela Instituto de Emprego e Formação Profissional em parceria com a Biblioteca, onde se ficou a saber um pouco mais sobre o estádio mais avançado da idade adulta - a velhice e o envelhecimento.
     O filme que se segue mostra algumas fotografias do evento.

     

Animais noturnos - Saber mais...

     Os alunos do 5º A, sob a orientação da professora Cândida Barros, fizeram um trabalho de pesquisa subordinado ao tema "Animais que vivem nas trevas", também designados por animais noturnos e, desta forma, ficaram a saber mais sobre o modo de vida de alguns deles.
    Os trabalhos resultantes estiveram expostos na biblioteca para que o Bi e outros interessados pudessem aprender um pouco mais sobre a vida daqueles animais que, preferindo as trevas à luz, se encontram especialmente ativos durante a noite e mais sonolentos de dia.
     Segue-se o registo fotográfico da exposição dos trabalhos.



terça-feira, 28 de abril de 2015

Dia Mundia da Poesia - 21 de março - Parte 4

    Porque no dia Mundial da Poesia se comemora a poesia,
aqui ficam os poemas que foram declamados a 19 de março.
     São belos... deliciem-se!

As palavras também brincam
fazem cada coisa louca
saltam na ponta da língua
são estrelas no céu-da-boca.

Dão pontapés no ditado
mas ditam cartas de amor
contam histórias de fadas
jogam no computador.

Às vezes, fingem que dormem
apenas para enganar
se ficam presas nos livros
desejosas de falar.

Não tem asas mas voam
e sobem como um balão
quando pela nossa voz
se transformam em canção.

Toca piano, toca a cantar
com as palavras nós vamos voar.

                Luísa Ducla Soares,
                “Brincar com as Palavras”

Aquela nuvem
parece um cavalo…
Ah! Se eu pudesse montá-lo!
Aquela?
Mas já não é um cavalo,
É uma barca à vela.
Não faz mal.
Queria embarcar nela.
Aquela?
Mas já não é um navio,
é uma torre amarela
a vogar no frio
onde encerraram uma donzela.
Não faz mal.
Quero ter asas
para a espreitar da janela.
Vá, lancem-me no mar
donde voam as nuvens
para ir numa delas
tomar mil formas
com sabor a sal
– Labirinto de sombras e de cisnes
No céu de água-sol-vento-luz
concreto e irreal…

          José Gomes Ferreira
          “Aquela Nuvem”

Vi de repente
o sol brilhar no charco,
as ervas altas
a curvarem-se em arco
para dar passagem
a invisível barco.

Que estranha aragem
de repente no charco
dizia a viagem
que não era do barco?

E de repente eu vi
o sol a estremecer
e as ervas altas
a curvarem-se em arco
para dar passagem
à manhã a nascer.

             Maria Alberta Menéres,
            “De repente”

Sou o pássaro que canta
dentro da tua cabeça,
que canta na tua garganta,
que canta onde lhe apeteça.
Sou o pássaro que voa
dentro do teu coração
e do de qualquer pessoa
(mesmo as que julgas que não).
Sou o pássaro da imaginação
que voa até na prisão
e canta por tudo e por nada
mesmo com a boca fechada.
E esta é a canção sem razão
que não serve para mais nada
senão para ser cantada
quando os amigos se vão
e ficas de novo sozinho
na solidão que começa
apenas com o passarinho
dentro da tua cabeça.

          Manuel António Pina
          “O pássaro da cabeça”

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

          Eugénio de Andrade
         “É urgente o amor”

Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».

«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

«Amigo» (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!

«Amigo» é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.

«Amigo» é a solidão derrotada!

«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!

           Alexandre O'Neill
          “Amigo”
Esta é a Cidade, e é bela.
Pela ocular da janela
foco o sémen da rua.
Um formigueiro se agita,
se esgueira, freme, crepita,
ziguezagueia e flutua.

Freme como a sede bebe
numa avidez de garganta,
como um cavalo se espanta
ou como um ventre concebe.

Treme e freme, freme e treme,
friorento voo de libélula
sobre o charco imundo e estreme.
Barco de incógnito leme
cada homem, cada célula.
É como um tecido orgânico
que não seca nem coagula,
que a si mesmo se estimula
e vai, num medido pânico.

Aperfeiçoo a focagem.
Olho imagem por imagem
numa comoção crescente.
Enchem-se-me os olhos de água.
Tanto sonho! Tanta mágoa!
Tanta coisa! Tanta gente!
São automóveis, lambretas,
motos, vespas, bicicletas,
carros, carrinhos, carretas,
e gente, sempre mais gente,
gente, gente, gente, gente,
num tumulto permanente
que não cansa nem descança,
um rio que no mar se lança
em caudalosa corrente.

Tanto sonho! Tanta esperança!
Tanta mágoa! Tanta gente!

       António Gedeão
       “Esta é a cidade”

As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa

Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra

«Ganharás o pão com o suor do teu rosto»
Assim nos foi imposto
E não:
«Com o suor dos outros ganharás o pão»

Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem

       Sophia de Mello Breyner Andresen
       “Pessoas Sensíveis”

Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar...
(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos).
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar.~
         Miguel Torga
        “Viagem”

"Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?

Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti — não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.

Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!"

     Miguel Torga

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Dia Mundial da Poesia - 21 de março - Parte 3

         Voltamos atrás no tempo, para deixar abril por uns intantes e regressar a março, de modo a terminar a publicação de artigos dedicados ao Dia Mundial da Poesia.
      Assim, no dia 19 de março, as atividades foram encerradas com chave de ouro: a Escola Integrada de Castelo de Neiva uniu os seus esforços com a Escola de Música local e, conjugando de forma harmoniosa a musicalidade e o ritmo das palavras com a sonoridade rítmica e melodiosa da música, presentearam-nos com um espetáculo inesquecível.
     Para que tal evento fosse possível,  as vozes dos declamadores juntaram-se às mãos dos instrumentistas e a obra resultante foi um hino aos sentidos...
      Parabéns a todos os intervenientes, visíveis ou mais discretos, que estiveram no palco ou que se encontravam nos bastidores... 




     Nos vídeos que se seguem, o primeiro registo é dedicado aos declamadores, o segundo aos instrumentistas e o último dá-nos uma panorâmica geral do espetáculo. Apreciem...


       

 


sexta-feira, 24 de abril de 2015

Aniversário do 25 de abril... a Biblioteca como palco da partilha de saberes

     Esta semana, com os preparativos para a celebração de mais um aniversário da "revolução dos cravos", muitos foram os espaços da escola que serviram para mostrar o que se criou sobre este tema.
      A biblioteca também não fugiu à regra e, durante uns instantes, transformou-se num espaço onde se partilharam saberes. Assim, pela mão de duas jovens alunas aprendemos, muito rapidamente, a fazer um cravo com papel crepe.
         E aqui fica a nossa partilha do registo, para que todos possam fazer cravos de Abril... muitos cravos!
                25 de Abril nas tuas mãos!
     
         
     

Dia Mundial da Poesia - 21 de março - Parte 2

     Ainda no Dia Mundial da Poesia, que aqui na escola se comemorou no dia 18 de março, a Biblioteca teve patente uma pequena exposição com trabalhos realizados pelos alunos do 1º ano e ainda, expostos numa mesa, alguns livros de poesia retirados das prateleiras para os alunos saborearem as delícias do folhear.



     Ao longo do dia, foram apresentadas no painel de projeção do espaço multimédia, outras formas de sentir a poesia.
     Aqui disponibilizam-se os linkes que permitem rever esses momentos, assim como um brevíssimo filme em que alguns alunos assistem a um dos vídeos.









     
     Para concluir o ato de "polinização poética" das flores poemas que cresceram na nossa escola, partilha-se também algumas das poesias dedicadas a um público jovem mais crescido.


   
Pelo Sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo Sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia-a-dia.

Chegamos? Não chegamos?

- Partimos. Vamos. Somos
.
                           Sebastião da Gama, “ Sonho”
Eu um dia farei de mim
uma vida diferente.

Que caminho tão triste
ladeado de lagos sem ondas
pássaros sem asas
canteiros de flores empalhadas.

Onde está a luz?

Estrela, penumbra e sonho?

Um dia verás com olhos de uma criança
um simples arco-íris
como um sorriso no céu.


                  Henrique Risques Pereira,
                        in " transparência do tempo"
                        Quasi, 2003



Dizem, meu amor, que neste inverno os ventos
passarão a mão pela seara e levarão o trigo;
que os dias serão escuros e frios – e tão curtos 
que neles não caberá paixão alguma por pequena
que seja. Contam que punhais de chuva se abaterão
sobre os pomares; e que as árvores crescerão como
feixes de serpentes, procurando ganhar
desesperadamente o céu. E acrescentam que

os pássaros advinham tudo isto e que por isso
se calam de manhã – ouço-os  bater as asas
num aceno triste; partem para o sul, dizem,
se dizem a verdade.

Só a casa ficará de pé a olhar a planície. 
dentro dela os sonhos e as recordações do verão - retratos dos lugares que nunca visitámos, uma camisa de linho no espaldar da cadeira, um livro para sempre interrompido sobre a cama. 
Ouvíamos uma canção triste
na grafonola velha. 
Dançaríamos o ano inteiro, disseram
uma noite ao ver-nos atravessar a sombra da lua.
Ignoravam, então, o inverno.
Maria do Rosário Pedreira,
“A casa e o Cheiro dos livros”
                                                      Quetzal, 1996
Um sítio
onde o mar corre prós rios
onde a luz que há de dia
é de noite que alumia

e o verão é a estação dos frios

Um sítio
onde as coisas que há de pé
estão sentadas
e onde o vento ao soprar
deixa as coisas mais paradas

Um sítio branco
um sítio tal que o deserto aqui
é  floresta tropical
e o lume é gelo
 e a montanha vale

Um sítio roxo
um sítio que é o inverso dos lugares
aqui o são é coxo
e o cego rasga os mares

Inventar um sítio assim:
fazê-lo de tão sábios traços
que ao supores fugir de mim
me venhas cair nos braços.

        João Habitualmente,
        “Os animais antigos”
         Objecto Cardíaco, 2006




Fala-me um pouco sobre o amor.
Recorda-me as palavras que se dizem
quando se cruzam dois olhares.
«Amo-te», será?

Ou talvez me devesses dizer
que por detrás das palavras
trocadas no dia-a-dia
há um espaço de ausência
onde as emoções se articulam
e os sonhos se preenchem.

Fala-me um pouco mais sobre o amor
e diz-me como foi que entraste em mim
e desarrumaste desta forma a minha vida.

Maria Carlos Loureiro, “Acasos e Mistérios” 
Quetzal -1998


Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além... 
 Mais Este e Aquele, o Outro e a toda a gente...
 Amar! Amar! E não amar ninguém 
 Recordar? Esquecer? Indiferente!... 
 Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém 
 Durante a vida inteira é porque mente!
 Há um primavera em cada vida: 
 É preciso cantá-la assim florida, 
Pois se Deus nos deus voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada 
Que seja a minha noite uma alvorada, 
Que me saiba perder... pra me encontrar... 

Florbela Espanca, “Amar”



Dizem os ventos que as marés não dormem esta noite.
Estou assustada à espera que regresses:
as ondas já engoliram a praia mais pequena
e entornaram algas nos vasos da  varanda.
E, na cidade, conta-se que as praças acoitaram à tarde dezenas de gaivotas que perseguiram os pombos e os morderam.

A lareira crepita lentamente.
O pão ainda está morno à tua mesa.
Mas a água já ferveu três vezes para o caldo.
E em casa a luz fraqueja, não tarda que se apague.
E tu não tardes, que eu fiz um bolo de ervas com canela;
e há compota de ameixas e suspiros
e um cobertor de lã na cama e eu estou assustada.
A lua está apenas por metade, a terra treme.
E eu tremo, com medo que não voltes.

Maria do Rosário Pedreira, “Fado”,
 A Casa e o Cheiro dos Livros

Coração sem pátria sem continente sem mapa
coração alheio e estrangeiro

coração estranho e maior que qualquer mundo

com este passaporte

o do coração

sonho ser possível ter asas e estar em terra
ter caule e raiz  sobrevoar a sombra mais além
juntar a água ao fogo e resplandecer

conhecer
inteiro

do coração
sublime ardor
generosidade e dádiva

minhas raízes são aéreas

o sonho me leva
por onde o horizonte
se não prende

não há voo que possa permanecer no chão


          Ana Mafalda Leite, “Passaporte do Coração”
          Edições Quetzal,2002


Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre

Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida

                           Mia Couto, “Para ti”
                                   in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
Quero voar
- mas saem da lama
garras de chão
que me prendem os tornozelos.

Quero morrer
- mas descem das nuvens
braços de angústia
que me seguram pelos cabelos.

E assim suspenso
no clamor da tempestade
como um saco de problemas
-tapo os olhos com as lágrimas
para não ver as algemas...

(Mas qualquer balouçar ao vento me parece Liberdade.)

                    José Gomes Ferreira



Deixa falar o mestre, e devaneia...
A velhice é que sabe, e apenas sabe
Que o mar não cabe
Na poça que a inocência abre na areia.

Sonha!
Inventa um alfabeto
De ilusões...
Um á-bê-cê secreto
Que soletres à margem das lições...

Voa pela janela
De encontro a qualquer sol que te sorri!
Asas? Não são precisas:
Vais ao colo das brisas,
Aias da fantasia...
                            Miguel Torga,
                                    “Não saibas: imagina”

Todo o tempo é de poesia

Desde a névoa da manhã
à névoa do outro dia.

Desde a quentura do ventre
à frigidez da agonia

Todo o tempo é de poesia

Entre bombas que deflagram.
Corolas que se desdobram.
Corpos que em sangue soçobram.
Vidas que a amar se consagram.

Sob a cúpula sombria
das mãos que pedem vingança.
Sob o arco da aliança
da celeste alegoria.

Todo o tempo é de poesia.

Desde a arrumação ao caos
à confusão da harmonia.

         António Gedeão, “Tempo de Poesia”