Aqui disponibilizam-se os linkes que permitem rever esses momentos, assim como um brevíssimo filme em que alguns alunos assistem a um dos vídeos.
Para concluir o ato de "polinização poética" das flores poemas que cresceram na nossa escola, partilha-se também algumas das poesias dedicadas a um público jovem mais crescido.
Pelo Sonho é que vamos,
comovidos e mudos. Chegamos? Não chegamos? Haja ou não haja frutos, pelo Sonho é que vamos. Basta a fé no que temos. Basta a esperança naquilo que talvez não teremos. Basta que a alma demos, com a mesma alegria, ao que desconhecemos e ao que é do dia-a-dia. Chegamos? Não chegamos? - Partimos. Vamos. Somos.
Sebastião da Gama, “
Sonho”
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Eu um dia farei de mim
uma vida diferente. Que caminho tão triste ladeado de lagos sem ondas pássaros sem asas canteiros de flores empalhadas. Onde está a luz? Estrela, penumbra e sonho? Um dia verás com olhos de uma criança um simples arco-íris como um sorriso no céu. Henrique Risques Pereira,
in " transparência do tempo"
Quasi, 2003
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Dizem, meu amor,
que neste inverno os ventos
passarão a mão pela
seara e levarão o trigo;
que os dias serão
escuros e frios – e tão curtos
que neles não
caberá paixão alguma por pequena
que seja. Contam
que punhais de chuva se abaterão
sobre os pomares; e
que as árvores crescerão como
feixes de
serpentes, procurando ganhar
desesperadamente o
céu. E acrescentam que
os pássaros
advinham tudo isto e que por isso
se calam de manhã –
ouço-os bater as asas
num aceno triste;
partem para o sul, dizem,
se dizem a verdade.
Só a casa ficará de
pé a olhar a planície.
E dentro dela os
sonhos e as recordações do verão - retratos dos
lugares que nunca visitámos, uma camisa de linho no
espaldar da cadeira, um livro para sempre interrompido sobre
a cama.
Ouvíamos uma canção triste
na grafonola velha.
Dançaríamos o ano inteiro, disseram
uma noite ao
ver-nos atravessar a sombra da lua.
Ignoravam, então, o
inverno.
Maria do
Rosário Pedreira,
“A casa e o
Cheiro dos livros”
Quetzal, 1996
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Um sítio
onde o mar corre prós rios
onde a luz que há de dia
é de noite que alumia
e o verão é a estação dos frios
Um sítio
onde as coisas que há de pé
estão sentadas
e onde o vento ao soprar
deixa as coisas mais paradas
Um sítio branco
um sítio tal que o deserto aqui
é
floresta tropical
e o lume é gelo
e a montanha vale
Um sítio roxo
um sítio que é o inverso dos lugares
aqui o são é coxo
e o cego rasga os mares
Inventar um sítio assim:
fazê-lo de tão sábios traços
que ao supores fugir de mim
me venhas cair nos braços.
João
Habitualmente,
“Os animais antigos”
Objecto
Cardíaco, 2006
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Fala-me um pouco
sobre o amor.
Recorda-me as
palavras que se dizem
quando se cruzam
dois olhares.
«Amo-te», será?
Ou talvez me devesses
dizer
que por detrás das
palavras
trocadas no
dia-a-dia
há um espaço de
ausência
onde as emoções se
articulam
e os sonhos se
preenchem.
Fala-me um pouco
mais sobre o amor
e diz-me como foi
que entraste em mim
e desarrumaste
desta forma a minha vida.
Maria Carlos
Loureiro, “Acasos e Mistérios”
Quetzal -1998
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Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além... Mais Este e Aquele, o Outro e a toda a gente... Amar! Amar! E não amar ninguém
Recordar? Esquecer?
Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem? Quem disser que se pode amar alguém Durante a vida inteira é porque mente!
Há um primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida, Pois se Deus nos deus voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada, Que me saiba perder... pra me encontrar...
Florbela Espanca, “Amar”
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Dizem os ventos que as marés não dormem esta noite.
Estou assustada à espera que regresses:
as ondas já engoliram a praia mais pequena
e entornaram algas nos vasos da varanda.
E, na cidade, conta-se que as praças acoitaram à tarde
dezenas de gaivotas que perseguiram os pombos e os morderam.
A lareira crepita lentamente.
O pão ainda está morno à tua mesa.
Mas a água já ferveu três vezes para o caldo.
E em casa a luz fraqueja, não tarda que se apague.
E tu não tardes, que eu fiz um bolo de ervas com canela;
e há compota de ameixas e suspiros
e um cobertor de lã na cama e eu estou assustada.
A lua está apenas por metade, a terra treme.
E eu tremo, com medo que não voltes.
Maria do Rosário Pedreira, “Fado”,
A
Casa e o Cheiro dos Livros
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Coração sem pátria
sem continente sem mapa
coração alheio e
estrangeiro
coração estranho e
maior que qualquer mundo
com este passaporte
o do coração
sonho ser possível
ter asas e estar em terra
ter caule e
raiz sobrevoar a sombra mais além
juntar a água ao
fogo e resplandecer
conhecer
inteiro
do coração
sublime ardor
generosidade e
dádiva
minhas raízes são
aéreas
o sonho me leva
por onde o
horizonte
se não prende
não há voo que
possa permanecer no chão
Ana Mafalda
Leite, “Passaporte do Coração”
Edições
Quetzal,2002
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Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida
Mia
Couto, “Para ti”
in
"Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
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Quero voar
- mas saem da lama
garras de chão
que me prendem os tornozelos.
Quero morrer
- mas descem das nuvens
braços de angústia
que me seguram pelos cabelos.
E assim suspenso
no clamor da tempestade
como um saco de problemas
-tapo os olhos com as lágrimas
para não ver as algemas...
(Mas qualquer balouçar ao vento me parece Liberdade.)
José Gomes
Ferreira
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Deixa falar o mestre, e devaneia...
A velhice é que sabe, e apenas sabe
Que o mar não cabe
Na poça que a inocência abre na areia.
Sonha!
Inventa um alfabeto
De ilusões...
Um á-bê-cê secreto
Que soletres à margem das lições...
Voa pela janela
De encontro a qualquer sol que te sorri!
Asas? Não são precisas:
Vais ao colo das brisas,
Aias da fantasia...
Miguel Torga,
“Não saibas:
imagina”
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Todo o tempo é de poesia
Desde a névoa da manhã
à névoa do outro dia.
Desde a quentura do ventre
à frigidez da agonia
Todo o tempo é de poesia
Entre bombas que deflagram.
Corolas que se desdobram.
Corpos que em sangue soçobram.
Vidas que a amar se consagram.
Sob a cúpula sombria
das mãos que pedem vingança.
Sob o arco da aliança
da celeste alegoria.
Todo o tempo é de poesia.
Desde a arrumação ao caos
à confusão da harmonia.
António Gedeão, “Tempo de Poesia”
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